A Morte Original

Davi ou Augusto Linhares, após o assalto em que foi vítima, atravessa ruas e aproxima-se de uma capela mortuária onde ocorre um velório e entre as pessoas que ali se encontram, deixa-se ficar, pois tal como eles não tem para onde ir, nem com quem passar a noite. A longa noite que aos olhos de todos, parece não ter fim. Um morto a ser velado, Dalila, a viúva, Rolando, o caminhoneiro, o homem que desconhece o sono, Dora, a prostituta e amante do falecido, e Ascânio, que demonstra odiar o...
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Davi ou Augusto Linhares, após o assalto em que foi vítima, atravessa ruas e aproxima-se de uma capela mortuária onde ocorre um velório e entre as pessoas que ali se encontram, deixa-se ficar, pois tal como eles não tem para onde ir, nem com quem passar a noite. A longa noite que aos olhos de todos, parece não ter fim. Um morto a ser velado, Dalila, a viúva, Rolando, o caminhoneiro, o homem que desconhece o sono, Dora, a prostituta e amante do falecido, e Ascânio, que demonstra odiar o genro. Como ele não lembra o nome, recorda apenas fatos dispersos, como momentos dramáticos da infância, sente um profundo comprometimento com as pessoas que o incitam a revelar o seu passado. Sabendo apenas que foi assaltado, sente-se ao mesmo tempo, humilhado e culpado pela situação, como se desejasse a própria tragédia. Com o passar da história, depara-se com um passado estranho que não condiz com a sua realidade pessoal, e ao mesmo tempo, sua vida permeia um presente que parece desconhecido e do qual não consegue fugir. Com o desenrolar da história, haverá a possibilidade de se descobrir a verdadeira identidade do morto. Afinal o presumível defunto estaria realmente morto? Em meio àquela fauna misteriosa, tais como Regina, o travesti, Dora, que está sempre ao seu lado, a própria viúva que lhe parece uma incógnita, o pessoal da pensão, sempre atento e desconfiado, ele encontra uma única saída, afastar-se em definitivo e desvendar o mistério de sua vida. A partir da narrativa em primeira pessoa, o discurso é o instrumento adequado do personagem em representar o seu estar no mundo, a sua representação social e a revelação implícita de sua ideologia. É o que pretendemos transmitir ao leitor, este ponto de vista que se desvia do senso comum, um novo olhar do homem na condição individual e única, carecendo do carinho e da cumplicidade do outro, no sentido de absorver a solidão, que se torna menos dolorosa quando compartilhada e assim assumir a sua identidade no mundo. Todos os personagens estão estruturados para manter a urdidura tensa, culminando com um suspense final, na presença de todos, mais uma vez, transformando a verdade individual numa reflexão coletiva. Afinal, quem teria morrido e quem teria o matado? Para o protagonista era mais do que uma dúvida, uma incoerência dos fatos. Que envolvimento teria com aquele grupo? Por que o escolheram? Deve um homem conhecer o seu passado, quando uma dívida o torna vítima de seus atos?Como enfrentar o futuro, se o defunto que visita já não é um defunto, mas sim o cobrador da dívida? Como encontrar a verdade, se já não tem mais certeza de nada, nem mesmo do passado que conferem sua vida? Será ele Davi, como dissera ou Augusto, o vingador? Esta é a história de uma morte que nem sempre significa um adeus à vida, talvez um recomeço de uma grande caçada: uma morte original.